Quanto custa a felicidade?
- staccato
- Nov 21, 2019
- 2 min read
A jovem Ariana Grande é umas das cantoras mais bem-sucedidas da sua geração e, em janeiro, presenteou-nos com mais uma canção. “7 rings” põe adolescentes a dançar e cantar pelo mundo. O refrão é simples e não nos sai da cabeça “I see it, i like it, I want it, i got it” [eu vejo, eu gosto, eu quero, eu tenho]. Numa sociedade marcadamente consumista, esta é mais uma música que espelha quem somos e do que gostamos.
Somos consumistas. Não consumimos só por necessidade, consumimos por prazer. Pelo prazer de ter aquele casaco que está na moda, aquele telemóvel topo de gama ou aquele perfume que o nosso ator preferido usa. Porque queremos ter o que os outros têm ou nos mostram que têm, através das redes sociais. Porque, por muito que digamos que não, vivemos numa sociedade em que a felicidade não está no que somos, mas no que temos.
Ariana Grande canta aquilo que é a sociedade em que vivemos, apelando ao conceito de consumismo desenvolvido por Bauman. “I’d rather spoil all my friends with my riches / Think retail therapy my new addiction” [prefiro mimar todos os meus amigos com a minha riqueza / acho que a terapia de compras é o meu novo vício] porque, na verdade, “não há nada melhor para curar a tristeza do que uma tarde de compras”, dizem. O dinheiro não resolve problemas? Ariana responde que os que dizem isso “must not have enough money to solve ‘em” [não devem ter dinheiro suficiente para os resolver].
Fazemos compras que não precisamos porque somos viciados nisso e a verdade é que adoramos mostrar aos outros aquilo que comprámos. Ariana Grande faz-nos o favor de falar de tudo isso na sua música. Não negamos que é um bom som para dar um passinho de dança numa sexta-feira à noite, mas não passará o papel dos artistas também por transmitir boas mensagens? Mostrar que a nossa felicidade não passa pelo que compramos, mas sim pelo que sabemos? Que o lado bom da vida está, muitas vezes, fora do centro comercial?
Estamos a chegar a dezembro. As ruas enchem-se de decorações, luzes e árvores de natal, mas não podemos negar que estamos a chegar também à época mais consumista do ano. A época em que pensamos mais nos presentes que vamos oferecer do que nos abraços que vamos dar. Onde os shoppings se enchem de gente que sai com dez sacos na mão, mas que, se calhar, não disse “boa tarde” a quem os atendeu na loja. Quem faz a sociedade somos nós, humanos. Podemos dançar ao som da Ariana durante todo o ano, mas, por favor, não sejamos só mais um que vê, gosta, quer e compra.
Beatriz Duarte, Catarina Cascabulho, Inês Ferreira & Inês Mestre
Bauman, Z. (2001) Consuming Life. Journal of Consumer Culture , 1 (1), 9–29.
Comentários